Por que estudar Idade Média na escola???
Somos todos da Idade Média
Pouca gente se dá conta, mas
muitos hábitos, conceitos e objetos tão presentes no nosso dia a dia, inclusive
o próprio idioma que falamos, vêm daquela época [Idade Média]. [...]
Ao tratarmos da História do
Brasil, por exemplo, a tendência é começar no dia 22 de abril de 1500, quando
Pedro Álvares Cabral e os tripulantes de sua esquadra “descobriram” nossa
terra. Mas aqueles homens não traziam atrás de si, dentro de si, toda uma
história? Não trouxeram para cá amplo conjunto de instituições, comportamentos
e sentimentos? Aquilo que é até hoje o Brasil não tem boa parte da sua
identidade definida pela longa história anterior de seus “descobridores”?
Dizendo de outro modo, nossas raízes são medievais, percebamos ou não este
fato.
Pensemos num dia comum de
uma pessoa comum. Tudo começa com algumas invenções medievais: ela põe sua
roupa de baixo [...], veste calças compridas [...], passa um cinto fechado com
fivela (antes ele era amarrado). A seguir, põe uma camisa e faz um gesto simples,
automático, tocando pequenos objetos que também relembram a Idade Média, quando
foram inventados, por volta de 1204: os botões. Então ela põe os óculos
(criados em torno de 1285, provavelmente na Itália) e vai verificar sua
aparência num espelho de vidro (concepção do século XIII). Por fim, antes de
sair olha para fora através da janela de vidro (outra invenção medieval, de
fins do século XIV) para ver como está o tempo. [...]
Sentindo fome, a pessoa
levanta os olhos e consulta o relógio na parede da sala, imitando gesto
inaugurado pelos medievais. Foram eles que criaram, em fins do século XIII, um
mecanismo para medir o passar do tempo, independentemente da época do ano e das
condições climáticas. Sendo hora do almoço, a pessoa vai para casa ou para o
restaurante e senta-se à mesa. Eis aí outra novidade medieval! Na Antiguidade,
as pessoas comiam recostadas numa espécie de sofá, apoiadas sobre o antebraço.
Da mesma forma que os medievais, pegamos os alimentos com colher (criada
aproximadamente em 1285) e garfo (século XI, de uso difundido no XIV).
Terminada a refeição, a pessoa passa no banco, que, como atividade laica,
nasceu na Idade Média. Depois, para autenticar documentos, dirige-se ao
cartório, instituição que desde a Alta Idade Média preservava a memória de
certos atos jurídicos (“escritura”), fato importante numa época em que pouca
gente sabia escrever.
À noite, enfim, a pessoa vai
à universidade, instituição que em pleno século XXI ainda guarda as
características básicas do século XII, quando surgiu. [...].
FRANCO JÚNIOR, Hilário.
Somos todos da Idade Média. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de
Janeiro, Sabin, ano 3, n. 30, p. 58-60, mar. 2008.
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